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Europeização do futebol brasileiro? Entenda

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As modernas arenas brasileiras, inspiradas nos estádios da Europa, contribuíram diretamente para o aumento no preço dos ingressos

Assistir futebol no Brasil, hoje em dia, é caro. O tempo das saudosas “gerais” se foi, grande parte dos principais estádios do país se modernizou e trocou as arquibancadas de concreto por cadeiras de plástico e almofadadas.

Em função desta mudança, os preços dos ingressos aumentaram expressivamente e o perfil do torcedor presente nos estádios mudou.

Conforme levantamento feito pelo portal Superesportes, que considerou 79 jogos das quatro primeiras rodadas das séries A e B em 2022, seis clubes possuem um ticket médio acima de R$50. Eles são: Avaí, Criciúma, Palmeiras, Operário, Coritiba e Athletico Paranaense.

Vale ressaltar que o Furacão possui a média mais alta, cobrando R$100 de seu torcedor nos jogos realizados dentro de casa, na Arena da Baixada.

Outra pesquisa revela que o Brasileirão Série A está entre os campeonatos com ingressos mais caros do mundo. O Brasil aparece na 22ª posição do ranking divulgado no relatório Football Price Index 2022.

A lista, que contém 28 ligas, é encabeçada pela Premier League, a primeira divisão da Inglaterra. A relação segue com Major League Soccer (Estados Unidos), La Liga (Espanha), Bundesliga (Alemanha) e Ligue 1 (França), respectivamente.

O cenário começou a mudar no Brasil depois da Copa do Mundo de 2014. Afinal, o país precisou atender a diversas exigências da FIFA para sediar o maior evento esportivo do planeta. A principal delas era a realização de reformas radicais ou construção de novos estádios.

Elitização pós-copa

No total, a Copa foi disputada em 12 estádios diferentes, enquanto nas edições realizadas na Coréia do Sul e Japão, Alemanha, África do Sul e Rússia o número não passou de 10.

Dos 12 estádios, sete foram construídos especialmente para a competição:

  • Arena Corinthians (São Paulo-SP)
  • Arena Nacional (Brasília-DF)
  • Arena Fonte Nova (Salvador-BA)
  • Arena Pernambuco (Recife-PE)
  • Arena Pantanal (Cuiabá-MT)
  • Estádio das Dunas (Natal-RN)
  • Arena Amazônia (Amazonas-AM).

Enquanto isso, Maracanã (Rio de Janeiro-RJ), Mineirão (Belo Horizonte-MG), Arena da Baixada (Curitiba-PR) e Beira-Rio (Porto Alegre-RS) passaram por grandes reformas para receberem jogos das 32 melhores seleções do mundo.

Todos são modernos, confortáveis e, claro, milionários. São verdadeiras arenas de última geração que fazem frente a estádios europeus. A manutenção não é barata, pelo contrário, custa milhares de reais.

Nenhum desses estádios foi construído com arquibancadas de concreto e com setores de preço acessível. Isso contribuiu para a disparada no preço dos ingressos e, consequentemente, para a elitização do futebol brasileiro.

O perfil do torcedor mudou. Assim como na Europa, o adepto ao clube passou a ser um cliente da instituição.

Só para ilustrar, a entrada mais barata para os jogos da fase de grupos da Copa do Mundo estava R$60. Já para a finalíssima, disputada no Maracanã, os torcedores precisaram desembolsar, no mínimo, R$330.

Vale lembrar que torcedores do Flamengo já reclamavam do preço do ingresso no Maracanã, antes mesmo da Copa. Em 2013, o ingresso mais barato para a decisão da Copa do Brasil, entre Flamengo e Athletico Paranaense, custava R$250.

Europeização do futebol

Desde então, os preços só aumentam e dificultam a vida de pessoas de baixa renda, que não têm dinheiro suficiente para ir ao estádio. Na maioria das vezes, essa fatia da população representa a maior parte das torcidas.

Além do ingresso, é preciso pagar a condução e gastar com alimentação, que não costuma ser barata dentro dos estádios.

No Allianz Parque, casa do Palmeiras, um choripán custa R$25. Por outro lado, na Neo Química Arena, reduto corintiano, uma fatia de pizza toscana e um copo pequeno de refrigerante não sai por menos de R$30. Ou seja, uma família com quatro membros tende a gastar mais de R$100 somente com a alimentação.

Os planos de sócio torcedor, oferecido por diversos clubes, também dificultam a presença de cidadãos com baixo poder aquisitivo. Afinal, o mecanismo faz com que os estádios sejam frequentados sempre pelas mesmas pessoas.

Sendo assim, quem não se associar, dificilmente conseguirá entradas para os jogos do time de coração.

Com os preços nas alturas, a única saída é acompanhar o jogo de casa, por meio da televisão ou streaming. Quem assiste de longe busca por alternativas para se divertir, como as apostas online, que proporcionam ainda mais emoção a partida.

Contratação de técnicos europeus

Após os fiascos nas Copas de 2006, 2010, 2018, e do vexame sem precedentes em 2014, os dirigentes finalmente perceberam que o futebol precisa de mudanças. A grande tendência é apostar em técnicos estrangeiros, de preferência os de origem portuguesa.

Parte da mídia e torcedores consideram que os treinadores brasileiros estão ultrapassados. Assim, profissionais de Portugal, e alguns da Argentina, ganharam espaço em grandes times.

Desde 2019, oito técnicos lusitanos passaram por aqui. Apenas um deles ficou no cargo em mais de 100 jogos: Abel Ferreira, do Palmeiras.

Mudanças nas competições

Para se assemelhar às competições do Velho Continente, como Champions League e Europa League, a CONMEBOL decidiu que a Libertadores e a Sul-Americana fossem definidas em final única.

A novidade desagradou muitos torcedores, pois a América do Sul é gigante, e com essa mudança, os adeptos aos finalistas, que normalmente moram na região do clube, precisam passar por longas viagens até a sede da decisão.

Para se ter ideia, torcedores do Flamengo percorreram cerca de 4966 quilômetros até Lima, cidade que recebeu a final da Libertadores de 2019.

Vale lembrar que povos sul-americanos não possuem o mesmo poder aquisitivo dos europeus. Assim, apenas pessoas com dinheiro de sobra podem bancar a viagem, hospedagem, ingressos e demais despesas para assistir à finalíssima.

Diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu

Mesmo com as mudanças citadas nos parágrafos anteriores, o futebol brasileiro ainda precisa melhorar. Para começar, é necessário rever seu calendário.

Especialistas defendem a extinção ou diminuição dos estaduais, campeonatos inexistentes na Europa.

Com os estaduais, times da primeira divisão ficam sobrecarregados durante a temporada. O recorde de jogos é do Flamengo, que disputou 83 jogos em 2017.

Segundo o levantamento feito pela Folha de S.Paulo, que considerou 65 mil partidas entre 2014 e 2019, times do Brasileirão fazem em média 69 jogos a cada ano, 20 a mais que os clubes da Europa.

Em apenas 7 meses, cada time joga 38 partidas pelo Campeonato Brasileiro. Esse curto espaço de tempo entre as partidas, geralmente de 72 horas, compromete a recuperação dos atletas.

Além de aumentar o risco de lesões, jogadores cansados não conseguem dar 100% dentro de campo. Desta forma, diminui o nível técnico do futebol brasileiro. 

Por outro lado, as principais ligas da Inglaterra, França, Espanha e Alemanha, também disputadas no formato de pontos corridos, têm quase 10 meses de duração.

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